Ética da Conservação e Ética da Mudança

O que é ética?

Respota do professor Paulo Capela a aluna Beatriz:

Ética para mim é toda atitude que tomamos em estado de liberdade, sem sermos constrangidos obrigatoriamente a agir de tal ou qual forma, portanto quando falo em ética falo dos momentos em que decidimos e fazemos nossas opções sem o constrangimento de  fazê-las por imposições, portanto, ser ético é uma opção de fórum intimo de cada um, mas que se constitui pelas  convicções que vão se estruturando ao longo do processo histórico de nossas vidas, ou seja, só nos tornamos verdadeiramente éticos quando temos muitas oportunidades de optar utilizando-nos de nosso livre arbítrio.
Contrariamente a ética, penso que a moral é todo discurso social que nos é imposto  de fora para dentro.
Bem, o fato real é que  ambas, ética e moral, nos condicionam, são partes da mesma moeda e nos dão os parâmetros para uma vida social e para nossas opções. Por mais que queiramos não somos livres de forma absoluta como pensam alguns, os egoístas, visto que sendo sujeitos ético-morais somos seres de relação sociais, e não seres de contatos sociais apenas, não somos células autônomas,  portanto, o aprendizado ético-moral que acredito, pauta-se no aprendizado e no ensino de ler/ver o mundo também a partir do ponto de vista do outro antes de agir.
Outro fato real é de que a vida nos impõe cotidianamente grandes dilemas ético-morais, nos chamando a responsabilidades ao optar a favor do que e de quem, portanto, contra que e contra quem fazemos nossas opções.  opta com coerência ético-moral  quem tem clareza de projeto de vida, de projeto pessoal e profissional, algo raro hoje em dia!
Frente aos dilemas das escolhas de vida uns se acham eticamente com o direito de tomar decisões absolutamente centradas em si, em seus e só seus desejos; outros não, outros pensam que seu direito de tomar decisões é proporcional a felicidade que a sua existência possa trazer a si próprio e aos outros, esses vêem-se imanados em um pensamento ético social de muita grandeza, vêem-se parte da grande família universal-cósmica. Para eles, seus direitos acabam quando acabam o dos outros, ou seja, não podem, enquanto principio ético, ter direitos que não sejam possíveis de serem praticados por todos, quer sejam direitos materiais, quer sejam direitos imateriais, para esses a libertação humana é projeto ético-moral-coletivo.
Assim, os seres humanos se tornam éticos pelas opções que tomam frente a situações limites que lhes são impostas. Vivemos cotidianamente nos comportando socialmente  como seres éticos e morais. Nossa ética (isso eu não faço num espaço de liberdade pessoal de meu ser) nos aproxima e nos distancia de pessoas e projetos de vida e de projetos profissionais. Portanto, ética e moral como duas partes da mesma moeda nos permitem ser o que somos em nosso intimo, e também nos posiciona frente aos “olhos sociais” (frente aos outros). O binômio ético-moral nos dá os claros limites de nossa existência enquanto indivíduos e sujeitos sociais públicos que somos.
Bem, penso que cada instituição profissional impõe princípio de conduta profissional aos sujeitos que nessas instituições atuam, são princípios que na maioria das vezes nos impedem de ser o que verdadeiramente gostaríamos e desejaríamos de ser e fazer profissionalmente, as instituições sociais são conservadoras de uma determinada ordem.. Porém as instituições também nos oferecem  espaços possíveis de mudanças, espaços para ousarmos, muitas das vezes para ousarmos dolorosamente a sermos diferentes.
A UFSC, lugar social onde exerço minhas atividades profissionais, portanto uma universidade Federal Pública Brasileira,  não é diferente das demais universidades brasileiras, é, portanto, uma instituição de ensino superior que expressa, hegemonicamente, um projeto de formação profissional e de produção de conhecimento científico extremamente conservador. É em meio a esse cenário que venho buscando exercitar minhas opções ético-moral e profissionais  a favor das classes populares, da vida plena e de um projeto de universidade que forneça os elementos necessários para a construção de um país mais justo, fraterno, feliz e para todos.
É óbvio que quem assim proceda torna-se uma pessoa estranha a normalidade do sistema, mas o que me faz prosseguir é minha fé inabalável por um mundo melhor para viver. Tenho convicção de que um dia seremos muitos, por isso sou professor e faço com muita intensidade meus dias de vida e de trabalho. Busco ser primeiro professor de mim mesmo, gosto muito de aprender, e depois dos acadêmicos e das pessoas com quem convivo e com quem aprendo muito mais do que ensino. Minha forma de ser professor se faz no radical e amoroso diálogo movido pelo amor a vida e as pessoas, mas com a clareza de ter que  muitas vezes dizer não, quando o fácil teria sido dizer sim....
Espero ter lhe ajudado a entender dilemas de ser um professor que quer uma educação física e um mundo social diferentes em meio a inúmeras condicionantes e limites, da instituição universidade, e os próprios pessoais meus.
Paulo Capela

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