Constrangedores detalhes da Arena Cuiabá. Elefante branco que custou R$ 570 milhões dos cofres públicos. E que valem a pena conhecer. Para entender porque ela não deveria ser construída…


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Ao blogueiro Cosme Rímoli e ao portal R7
Da Assessoria de Comunicação da Secopa-MT
Sobre o o texto publicado pelo blogueiro Cosme Rímoli no dia 3 de abril de 2014, às 13h18:
- Não houve segregação racial ou qualquer tipo de discriminação com relação aos operários da Arena Pantanal, ao contrário do texto do blogueiro, que não compareceu ao jogo entre Mixto x Santos e fez comentários com informações infundadas.
- O estádio, como é de conhecimento público, não está concluído e nem foi inaugurado. Por essa razão, apenas um setor do estádio foi liberado ao público neste primeiro jogo-teste. A organização da partida, como a venda de ingressos, foi de responsabilidade do Mixto, mandante do confronto pela Copa do Brasil.
- Com todos os ingressos vendidos ao público, a Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo no Mato Grosso) recebeu pedido dos operários para assistir à partida. A opção encontrada foi liberar o acesso à arquibancada superior, onde ainda não tinham sido instaladas as cadeiras. Os operários concordaram com essa opção. Portanto, não foi um ato de discriminação, muito menos de segregação, como informou infundadamente o blogueiro.
- Em razão do comentário ofensivo e incorreto do blogueiro Cosme Rímoli, faz-se necessário esse esclarecimento aos leitores do portal R7.
Fernando Santos
In Press - Cuiabá - Copa2014
Esse foi o direito de resposta de você, assessor Fernando Santos. Trabalhador da In Press, assessoria de imprensa que trabalha para a assessoria de Comunicação da Copa do Mundo em Cuiabá. Recebe, portanto, dinheiro para defender o estádio. Trabalho no R7 para defender as minhas apurações e opiniões. Não ganho um centavo para falar bem ou mal de nada. Talvez por isso o blog tenha milhões de acessos mensalmente.
'Ofensivo' para mim é ter a coragem de colocar sua experiência jornalística a favor de um elefante branco. Ainda mais em um país com tanta miséria como o Brasil. O bom salário não justifica essa defesa.
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O estádio custa até agora R$ 570 milhões, dinheiro vindo dos cofres públicos. Integralmente. Recomendo a mínima pesquisa para defender esse gasto absurdo. Não que a população de Cuiabá não mereça. É o futebol fraquíssimo mato-grossense que não justifica. Leia sobre a média de público do
estadual. Vou ajudar.
O próprio site da Federação Mato-Grossense de Futebol detalha. O clube que teve mais torcedores foi o Luverdense. Média de 1.501 pagantes por jogo. Cuiabá, Misto e Mato Grosso são os três grandes da Capital. Somados, tiveram impressionante média de 446 torcedores. O Cuiabá, 880 pessoas. O Mixto conseguiu levar 668 fãs às suas partidas. O Mato Grosso, 301 testemunhas. Somadas as 78 partidas, o público foi de 44.926. A média geral ficou em 456 pessoas por jogo. A capacidade deste elefante branco é de 41.390 pessoas.
Isso seria um escândalo em qualquer país civilizado. Porque um estádio tão grande e tão caro? Em uma região que os clubes não têm estrutura financeira ou torcedores que o justifiquem. Um estádio moderno para 20 mil pessoas seria mais do que suficiente. Todos que vivem em Cuiabá sabem disso.
O próprio secretário extraordinário da Secopa, Maurício Guimarães, afirmou ao Estado de São Paulo. "Ainda não fechamos completamente o custo de manutenção, mas acredito que vai ficar em torno de R$ 250 mil por mês. Se tirássemos as arquibancadas atrás dos gols, esse custo diminuiria apenas 15%. Então, não faz sentido tirar. O estádio ficou bonito assim, aquele pedaço faz parte de um contexto mais amplo."
Ou seja, o estádio 'para continuar bonito' manterá sua capacidade em 41.390 pessoas. Seu patrão, Fernando, acredita que o custo de manutenção deverá ficar em R$ 3 milhões ao ano. Mas alerta que ainda não fechou 'completamente o custo'. Tudo levar a crer que será mais. Mas vamos ficar com os R$ 3 milhões. Esse custo é altíssimo para um estádio em Cuiabá.
1reproducaoassessoriacuiaba Constrangedores detalhes da Arena Cuiabá. Elefante branco que custou R$ 570 milhões dos cofres públicos. E que valem a pena conhecer. Para entender porque ela não deveria ser construída...
Vamos ler bastante hoje, assessor Fernando? O Estado de São Paulo publicou no dia 23, há quatro dias, a confirmação de Santos e Atlético Mineiro na Arena Cuiabá. O site esportivo da Globo confirma o que vários veículos mato-grossenses publicam. O governo do Mato Grosso, repito para ficar gravado na sua memória, pagará R$ 1,2 milhão para o Santos enfrentar o Atlético Mineiro no novo estádio. Em duas parcelas de R$ 600 mil.
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/santos/noticia/2014/04/santos-escolhe-arena-pantanal-diante-do-galo-e-estuda-morumbi-contra-fla.html
Maneira artificial de ter público no estádio. A estratégia será essa até quando? O governo pagando para times de fora jogar no estádio só mostra a sua inutilidade. E vai apequenar ainda mais os clubes locais. Ou a população pagará para ver as fortes equipes de fora ou as fracas do Mato Grosso, assessor Fernando?
Em 2013, o governo prometeu a construção de um hospital regional de Porto Alegre do Norte. Na região do Norte Araguaia. Serviria para 25 mil pessoas, de 25 municípios diferentes. Deveria ter 259 leitos. Só que até agora, nada. Te interessa isso,assessor Fernando? Talvez, não.
Você que recebe para defender a Arena Pantanal diz que as minhas críticas foram infundadas. E que não compareci no triste, para mim, Santos e Mixto. Nisso tem razão. Não sou mesmo onipresente. Mas o que não me impede, graças a Deus, de poder ler, telefonar, me informar sobre o que acontece no mundo. Tudo que é publicado aqui neste espaço é checado.
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Seria interessante ler essa matéria do Diário de Cuiabá. http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=449071 "Arena Pantanal é inaugurada sem gols." Esse é o título. Para não cansá-lo muito, só reproduzo o primeiro parágrafo.
"Sem ar condicionado no vestiário do Santos, alagamento no entorno da arena, operários da obra sendo obrigados a assistir o jogo nas arquibancadas superiores, sentados no cimento e sem o carrinho para atender os jogadores que caiam no gramado, a Arena Pantanal foi oficialmente inaugurada, ainda inacabada, na noite de ontem, com o jogo entre Mixto e Santos pela Copa do Brasil."
Destaco a singela frase: 'operários da obra sendo obrigados a assistir o jogo nas arquibancadas superiores no cimento'. Não custa repetir para ficar muito claro. "Obrigados a assistir o jogo nas arquibancadas superiores. No cimento"!
Recomendo também a leitura desta matéria publicada pelo site esportivo da Globo e distribuída por todo o país.
http://www.centralbrasileirao.com.br/time/santos/noticia/25469/inacabada-arena-pantanal-precisa-de-ajustes-e-corre-contra-o-tempo#
Posso facilitar novamente. E reproduzir um trecho sobre o fatídico jogo. Vale a pena gastar um tempo lendo,assessor Fernando.
"Operários no chão e sem acesso
Cerca de mil operários da Arena Pantanal receberam ingressos para acompanhar a partida, mas não saíram satisfeitos. A primeira reclamação foi por terem que sentar no chão, já que o setor superior do estádio não tinha cadeiras. A segunda que os ingressos puderam ser retirados apenas às 16h desta quarta-feira. A terceira e mais comentada por todos esteve na separação entre operários e torcedores comuns. Eles tiveram acesso por apenas um portão para entrar no estádio e não puderam frequentar as áreas comuns, como bares e banheiros. Um cordão de policiais, além de grades separavam os trabalhadores dos torcedores.
- Trabalhamos duro aqui e não pudemos nem sentar nas cadeiras. No bar que tivemos acesso, não tinha comida. Acho uma sacanagem conosco, já que fizemos parte dessa construção e na hora da parte boa nos deixam desse jeito – disse o montador Edinaldo Santana.
Para justificar o isolamento, a empresa responsável pela organização do jogo, afirmou que a presença de mais pessoas nas arquibancadas poderia causar tumulto, já que a capacidade de ingressos estava esgotada."
A matéria foi escrita do estádio. Repito um trecho, caso não tenha prestado atenção. "Eles tiveram acesso por apenas um portão para entrar no estádio e não puderam frequentar as áreas comuns, como bares e banheiros. Um cordão de policiais, além de grades separavam os trabalhadores dos torcedores."
Reproduzo aqui a definição da palavra segregação no dicionário Aurélio." Separar nitidamente com o fim de isolar e evitar contato: os brancos da África do Sul segregam os negros. / Expelir, operar a secreção de: segregar bílis. / &151; V.pr. Afastar-se, pôr-se à margem de; isolar-se: segregar-se do convívio social indo para o campo."
Separar nitidamente com o fim de isolar e evitar contato. Preste atenção, assessor Fernando. "Funcionários não podiam frequentar as áreas comuns, como bares e banheiros. Um cordão de policiais, além de grades separavam os trabalhadores dos torcedores." Ou seja, os isolavam, evitavam o contato com quem pagou para entrar. Na minha modesta opinião, com meus poucos neurônios, significa segregar.
Na minha opinião, a Secopa não fez nenhum favor em dar os ingressos aos operários. Não para sentarem no cimento cru, sem cadeiras. Para mim eles serviram apenas como figurantes. Preencher com pessoas fotografias de um estádio inacabado. Como os que posaram para Dilma Rousseff chutar uma bola.
Acho lamentável o que aconteceu na noite de Mixto e Santos. Vários levaram esposas e filhos. Colocá-los no cimento enquanto os pagantes se sentavam em cadeiras confortáveis, instaladas por eles mesmos, me envergonharia. Com o Aurélio do meu lado, repito: segregação.
Última matéria, assessor Fernando. Juro, para não cansar sua vista. É do UOL. http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/11/governador-mandou-atrasar-obra-da-arena-pantanal-diz-ex-secretario-de-mt.htm Reproduzo um parágrafo em sua homenagem.
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"Em 2012, o governador (Silval Barbosa) mandou que eu atrasasse a obra, para que o equipamento não deteriorasse com o tempo e não gerasse um custo extra de manutenção", disse Moraes. Apesar da ordem do chefe do Executivo estadual, o então secretário da Secopa MT teria se recusado a atrasar os trabalhos, conforme afirmou, em entrevista gravada ao UOL Esporte:
"Eu contestei isso (a ordem de atrasar a obra). Eu coloquei ao governador que, independentemente do período de manutenção ou não, toda vez que você faz uma redução no ritmo da obra, você desmobiliza. E para você mobilizar novamente leva um tempo para fazer essa adequação. Então, na minha concepção, era um risco alto. Então, enquanto eu estava secretário, eu não fiz isso."
"De qualquer maneira, fato é que a obra está atrasada em mais de um ano em relação à sua data de entrega original. O que teria levado a este atraso, na opinião de Eder Moraes? "Logo na sequência (da solicitação do governador), eu deixei a secretaria, e não sei se o Maurício (Guimarães, atual secretário da Secopa) atendeu, mas, pelo jeito, atendeu a essa recomendação."
Quem fez essas afirmações foi o ex-secretário da Secopa do Mato Grosso, Eder Moraes. Ele cita literalmente seu patrão, assessor Fernando.
Há outras matérias interessantes sobre a Arena Pantanal.
E cada uma delas me convence que ela não deveria ser construída.
'Incorreta', assessor, é sua visão distorcida da realidade do país em que vive.
Mais, no e-mail que você me manda, assessor Fernando, me chama de 'velho parceiro'. Não sou e nunca serei próximo a você. Ainda mais hoje, quando recebe para defender um estádio que é um elefante branco de mais de meio bilhão de reais.
A sua resposta profissional está aí publicada. Peço que nos próximos e-mails, se vierem, assine só seu nome. Ainda mais depois do seu envolvimento profissional com esta arena custeada com o dinheiro público.
Para mim, um desperdício de R$ 570 milhões para o Mato Grosso.
Para os brasileiros.
Que você continue trabalhando e justificando seu salário.
Mas não se atreva a me chamar de parceiro...
Cosme Rímoli...

Copa 2014

Jornalista dinamarquês desiste de cobrir a Copa e deixa o Brasil

"Sou um cara usado para impressionar", relatou Mikkel Jensen

Por: Felipe Barros, da PLACAR
PLACAR

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Mikkel Jensen deixou o Brasil ao descobrir "limpeza" feita para agradar pessoas como ele - um gringo | Crédito: Reprodução/Facebook
O jornalista dinamarquês Mikkel Jensen tinha o sonho de cobrir a Copa do Mundo no Brasil, mas não o cumprirá. Segundo ele, que esteve no país desde setembro do ano passado, as mudanças praticadas no país são feitas unicamente para impressionar pessoas como ele e a imprensa internacional. "Eu sou um cara usado para impressionar", justificou, em artigo publicado em seu perfil do Facebook (e que pode ser lido abaixo).
O sonho de Jensen de assistir "o melhor esporte do mundo em um país maravilhoso" terminou a apenas dois meses do pontapé inicial. Em visita a Fortaleza, "a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje", o dinamarquês esteve em contato com algumas crianças de rua. Uma delas lhe ofereceu um pacote de amendoins, e o impressionou.
"Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$ 10.000 e um Master Card no bolso. Inacreditável", relatou Jensen.
O jornalista optou por deixar o país quando se deu conta de que muitas crianças em situação de rua estão desaparecendo para dar aos turistas uma imagem mais "limpa" das cidades-sede. "Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da história em reais – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças", escreveu.
"Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil", concluiu Jensen, que já está de volta à Dinamarca.
Leia o artigo na íntegra:
Quase dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um plano e fui estudar no Brasil, aprendi Português e estava preparado para voltar.
Voltei em setembro de 2013. O sonho seria cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa eu decidi que não vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.
Durante cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.
Em Março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo a noite em área com muitos turistas. Por que? Para deixar a cidade limpa para os gringo e a imprensa internacional? Por causa de mim?
Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$10.000 e uma Master Card no bolso. Inacreditável.
Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.
Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da historia em reais e centavos – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças.
Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil.
Alguns quer dois ingressos para França – Equador no dia 25 de Junho?
Mikkel Jensen - jornalista independente do Dinamarca e correspondente em Rio de Janeiro
Narciso emite carta aberta aos professores de Educação Física
O técnico da Penapolense diz que profissionais envolvidos com futebol devem se unir pela constante evolução do esporte
Narciso dos Santos e Renato Buscariolli

Essa carta aberta é destinada aos professores de Educação Física, em especial àqueles que militam no futebol. Eu, Narciso dos Santos, através deste manuscrito, venho me posicionar frente à entrevista realizada no programa Cartão Verde, dia 25/03/14. Isso porque, vi a necessidade de esclarecer alguns pontos que não foram abordados no programa e que levaram a generalizações diversas e conclusões precipitadas.

Para confecção deste manuscrito, contei com o auxílio do meu companheiro de trabalho Renato Buscariolli, formado em Educação Física e atual preparador físico do Clube Atletico Penapolense.
A discussão gerada no embate, não é recente e parece eterna. Desde os primeiros dias de faculdade, essa temática se faz presente, seja no ambiente de ensino formal, seja no informal. Aliás, a briga entre “acadêmicos” e “ex-atletas”, não está restrita ao universo futebol: esse confronto de classes adquire tons picantes quando se trata dos profissionais envolvidos no ensino de artes marciais e lutas por exemplo. Mas, como no Brasil essas modalidades têm um apelo menor do que o futebol e poucos se dizem “entendidos” (diferente do futebol!) a polêmica não é tão grande.

Geralmente, para “regularizar” a situação de todos os envolvidos, o sistema CREF-CONFEF, cria possibilidades e subterfúgios para que todos fiquem habilitados a trabalhar: uns em virtude do estudo, outros em virtude da vivência prática e experiência de vida.
A pergunta que deu início à discussão no programa foi: “O que fazer para salvar as categorias de base?”. A pergunta de certa forma é pejorativa e generalista, pois parte do princípio que as categorias de base estão em colapso, independentemente do clube.

Narciso é tido como referência nas categorias de base em virtude do seu histórico vencedor: campeão paulista Sub-20 em 2008 quando iniciou a carreira como treinador (até então era auxiliar técnico), vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Junior em 2010 com o Santos (fazia 24 anos que o Santos não chegava à final do torneio) e campeão da Copa São Paulo de Futebol Junior com o Corinthians em 2012 com 100% de aproveitamento, 30 gols marcados e apenas dois gols sofridos em 8 jogos.
De forma sucinta, no início da resposta, eu, Narciso, destaquei a necessidade de se aprimorar o gesto técnico nas categorias de base, pois penso que o trabalho técnico é fundamental nas etapas de formação. Para tal, reforcei que ex-jogadores teriam maior facilidade do que acadêmicos para demonstrar e ensinar a execução do gesto motor para os jovens atletas em virtude da experiência prática.

Todavia, a frase que mais marcou a minha fala foi: “A categoria de base mudou muito porque entrou muito cara da faculdade para trabalhar”, uma generalização infeliz que atribuiu todos os problemas da base a estes profissionais, o que não é verdade.
Após o intervalo comercial, ponderei sobre a participação dos acadêmicos nas categorias de base, afirmando que há espaço para estes, mas não deixei claro em quais cargos (o farei abaixo). Na sequência, de forma implícita, divaguei sobre didática, quando destaquei a diferença entre planejamento versus execução do treino. Isso porque, já presenciei excelentes planos de treinos por parte de alguns acadêmicos cuja execução e dinâmica do trabalho deixaram a desejar.
Gostaria de deixar claro que não tem nenhuma restrição com os graduados em Educação Física que trabalham no futebol ou futsal. Pelo contrário, defendo um alto nível de qualificação técnica e formação acadêmica em cargos como auxiliar técnico, analista de desempenho, preparador físico, fisiologista, nutricionista, médico, fisioterapeuta e cargos executivos.
Em relação aos treinadores da base, penso que os responsáveis pelas categorias menores (sub-11 ao sub-15) devam ser altamente qualificados e de preferência graduados, uma vez que fatores como crescimento, desenvolvimento e maturação devem ser levados em consideração na montagem e execução do planejamento.

Minha ressalva em relação aos egressos da faculdade se restringe as categorias Sub-17 e Sub-20, as quais tive mais contato.
Em minha opinião, nestas categorias, o aspirante a treinador deveria trabalhar inicialmente como auxiliar técnico ou fazer estágios com treinadores experientes antes de assumir o cargo principal.

Para mim é fundamental a experiência prática prévia, que pode ter sido adquirida como atleta profissional, como auxiliar técnico ou através de estágios.

Acredito que apenas a graduação sem essa experiência prática concomitante, pode corroborar para uma formação deficitária nessas categorias. Eu mesmo trabalhei um ano e meio como auxiliar técnico antes de assumir o cargo de treinador do sub-20, além de ter feito estágio em três grandes equipes da Europa.
Aumentando o âmbito da discussão, eu, Renato, gostaria de destacar que independentemente do nível (base ou profissional), o futebol é feito por pessoas com diferentes histórias de vida. Se essas pessoas tiverem a humildade e a sabedoria de conviver em harmonia, respeitando e procurando aprender com aquele que está ao seu lado, independentemente da formação acadêmica ou da carreira futebolística, o futebol será o grande beneficiado.

Acredito que temos que aproximar ex-jogadores e acadêmicos pois o conhecimento de um não exclui o do outro: eles se complementam!

O grande desafio para que isso efetivamente aconteça é criar ambiente de troca, ou seja, ambiente de aprendizado no qual quem jogou terá acesso à informação específica, cursos, palestras, etc. Ao mesmo tempo, aquele que não jogou profissionalmente, além de buscar esse mesmo conhecimento específico, deverá agregar o máximo que puder da experiência prática dos ex-jogadores, principalmente no que diz respeito ao conhecimento do ambiente, gestão de pessoas e liderança.
Infelizmente, poucos clubes propiciam esse ambiente formal de troca entre os seus integrantes. Diferentemente do que acontece em outras esferas do mundo corporativo, onde as empresas valorizam, subsidiam e estimulam a busca por conhecimento específico dos seus funcionários, poucos clubes e gestores valorizam o conhecimento dos integrantes das respectivas comissões técnicas.

O principal critério utilizado para contratação e demissão dos gestores de campo são os resultados alcançados, independente de como foram atingidos (os fins justificam os meios). Para agravar ainda mais este quadro, não existe hoje no país algum pré-requisito para o exercício da função de Treinador e nem cursos sistematizados que atendam às exigências do futebol moderno.

Até onde tenho ciência, o próprio curso de treinador oferecido pela CBF não é exigido como pré-requisito em nenhum clube do futebol brasileiro. Caso essa situação venha a sofrer alterações no futuro, provavelmente todos os profissionais envolvidos com a gestão de campo tenham que buscar esse conhecimento comum, independente de ter sido atleta profissional ou ser graduado em Educação Física.
Até lá, cabe a nós, profissionais envolvidos com futebol, nos unirmos pela constante evolução do nosso esporte bretão, para que busquemos elevar o nosso nível de jogo e possamos fortalecê-lo cada vez mais. Ex-atletas e acadêmicos devem se colocar em pé de igualdade, afinal, “ninguém é tão sábio que não possa aprender e ninguém é tão ignorante que não possa ensinar”.