O futebol nas fábricas

O texto foi retirado da revista da Universidade de São Paulo (USP), do exemplar número 22 da edição do dossiê do futebol que foi publicado em 1994. A autora é Fátima Martin Rodrigues Ferreira Antunes, ela é bacharel e licenciada em ciências sociais e o seu Doutorado e Mestrado foram na área da sociologia. Os temas nos quais ela atua são: futebol, identidade nacional e patrimônio cultural. Sendo que seu Mestrado e Doutorado tiveram relação com o futebol.
Este texto discute como o futebol de clubes de fábricas foi importante para a difusão e a profissionalização do esporte. O clube mais conhecido fundado foi o The Bangu Athletic Club em 1904 e era praticado por funcionários ingleses para que os funcionários se divertissem nos intervalos de serviço. Porém não havia jogadores suficientes, assim foram obrigados a convidar os operários da tecelagem. As empresas tiveram uma grande importância, pois foi através do incentivo financeiro que ela deu aos clubes que os mesmos conseguiram pagar as despesas.
Ao passar do tempo aumentava os adeptos, e só a hora de almoço não era mais suficiente e assim passaram a jogar também nos finais de semanas. O número de clubes aumentava e esses times queriam melhores condições, as empresas deram suporte financeiro para as melhorias necessárias, como por exemplo, bolas de couro, construção de campo ou sede social, uniformes e chuteiras. Porém o clube exigia saber como os recursos estavam sendo usado, assim forma-se o primeiro controle das despesas do clube e inicia o processo de formação da direção dos clubes. As decisões que a direção do clube tomava, precisava passar pelo aval da diretoria da empresa e os principais cargos da direção do clube eram ocupados por diretores ou chefes da empresa, como o cargo de “presidente de honra”. O nível das equipes e o número de jogadores só aumentavam assim as equipes passaram a realizar a seleção de jogadores. Onde só os melhores jogavam, esses recebiam benefícios em sua função na indústria. Ganhavam dispensas para treinar, pois a empresa notou que se a equipe obtivesse resultados expressivos, essa seria uma possibilidade de divulgar a empresa.
Anarquistas e comunistas eram contra o futebol, por achar um “esporte burguês” e assim podendo minar a união e a organização da classe. Estes tentaram de todas as formas desestabilizar o futebol, contudo os funcionários das empresas cada vez mais praticavam o futebol. Entretanto eles foram importantes para a difusão do futebol entre a classe operária, onde os trabalhadores se vinculavam de alguma forma em sindicatos e associações das classes.
A profissionalização do futebol tem seu auge nas décadas de 40 e 50, assim as empresas intensificam o processo de qualificar suas equipes e preferem contratar bons jogadores a bons operários. Com isso os jogadores são valorizados e os operários percebem que no futebol uma oportunidade de melhorar sua condição de vida. Os jogadores queriam chegar aos clubes tradicionais e os clubes das indústrias eram o primeiro passo.  Porém os clubes empresas tinham a vantagem do jogador receber dois salários e terem benefícios no trabalho da fábrica para se dedicar ao futebol.
O jogador mais famoso que surgiu em um clube de fábrica foi Garrincha, iniciou sua carreira em 1949 no Sport Club Pau Grande. Antes de chegar ao Botafogo e a Seleção Brasileira, teve seu emprego na empresa muitas vezes sustentado pelo seu enorme talento com a bola. Pois faltava ao trabalho e brigava com seus colegas de trabalho.
Assim os clubes das fábricas foram importantes para a popularização e profissionalização do futebol, através desses clubes pessoas de classe social menos favorecida tinham a chance de praticar e com isso aumentar os adeptos ao futebol. Esses clubes tiveram importância por revelar novos jogadores para os clubes tradicionais e quando esses atletas encerravam sua carreira, as empresas os acolhiam na empresa e encaixavam eles em alguma função na empresa e no clube. Com isso de alguma forma davam oportunidades a esses ex-atletas na vida pós-futebol.

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