Publicado em 27/04/2014 às 13h45
Por Cosme Rímoli
Constrangedores detalhes da Arena Cuiabá. Elefante branco que custou R$ 570 milhões dos cofres públicos. E que valem a pena conhecer. Para entender porque ela não deveria ser construída…
Ao blogueiro Cosme Rímoli e ao portal R7
Da Assessoria de Comunicação da Secopa-MT
Sobre o o texto publicado pelo blogueiro Cosme Rímoli no dia 3 de abril de 2014, às 13h18:
- Não houve segregação racial ou qualquer tipo de discriminação com relação aos operários da Arena Pantanal, ao contrário do texto do blogueiro, que não compareceu ao jogo entre Mixto x Santos e fez comentários com informações infundadas.
- O estádio, como é de conhecimento público, não está concluído e nem foi inaugurado. Por essa razão, apenas um setor do estádio foi liberado ao público neste primeiro jogo-teste. A organização da partida, como a venda de ingressos, foi de responsabilidade do Mixto, mandante do confronto pela Copa do Brasil.
- Com todos os ingressos vendidos ao público, a Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo no Mato Grosso) recebeu pedido dos operários para assistir à partida. A opção encontrada foi liberar o acesso à arquibancada superior, onde ainda não tinham sido instaladas as cadeiras. Os operários concordaram com essa opção. Portanto, não foi um ato de discriminação, muito menos de segregação, como informou infundadamente o blogueiro.
- Em razão do comentário ofensivo e incorreto do blogueiro Cosme Rímoli, faz-se necessário esse esclarecimento aos leitores do portal R7.
Fernando Santos
In Press - Cuiabá - Copa2014
Esse foi o direito de resposta de você, assessor Fernando Santos. Trabalhador da In Press, assessoria de imprensa que trabalha para a assessoria de Comunicação da Copa do Mundo em Cuiabá. Recebe, portanto, dinheiro para defender o estádio. Trabalho no R7 para defender as minhas apurações e opiniões. Não ganho um centavo para falar bem ou mal de nada. Talvez por isso o blog tenha milhões de acessos mensalmente.
'Ofensivo' para mim é ter a coragem de colocar sua experiência jornalística a favor de um elefante branco. Ainda mais em um país com tanta miséria como o Brasil. O bom salário não justifica essa defesa.
O estádio custa até agora R$ 570 milhões, dinheiro vindo dos cofres públicos. Integralmente. Recomendo a mínima pesquisa para defender esse gasto absurdo. Não que a população de Cuiabá não mereça. É o futebol fraquíssimo mato-grossense que não justifica. Leia sobre a média de público do
estadual. Vou ajudar.
estadual. Vou ajudar.
O próprio site da Federação Mato-Grossense de Futebol detalha. O clube que teve mais torcedores foi o Luverdense. Média de 1.501 pagantes por jogo. Cuiabá, Misto e Mato Grosso são os três grandes da Capital. Somados, tiveram impressionante média de 446 torcedores. O Cuiabá, 880 pessoas. O Mixto conseguiu levar 668 fãs às suas partidas. O Mato Grosso, 301 testemunhas. Somadas as 78 partidas, o público foi de 44.926. A média geral ficou em 456 pessoas por jogo. A capacidade deste elefante branco é de 41.390 pessoas.
Isso seria um escândalo em qualquer país civilizado. Porque um estádio tão grande e tão caro? Em uma região que os clubes não têm estrutura financeira ou torcedores que o justifiquem. Um estádio moderno para 20 mil pessoas seria mais do que suficiente. Todos que vivem em Cuiabá sabem disso.
O próprio secretário extraordinário da Secopa, Maurício Guimarães, afirmou ao Estado de São Paulo. "Ainda não fechamos completamente o custo de manutenção, mas acredito que vai ficar em torno de R$ 250 mil por mês. Se tirássemos as arquibancadas atrás dos gols, esse custo diminuiria apenas 15%. Então, não faz sentido tirar. O estádio ficou bonito assim, aquele pedaço faz parte de um contexto mais amplo."
Ou seja, o estádio 'para continuar bonito' manterá sua capacidade em 41.390 pessoas. Seu patrão, Fernando, acredita que o custo de manutenção deverá ficar em R$ 3 milhões ao ano. Mas alerta que ainda não fechou 'completamente o custo'. Tudo levar a crer que será mais. Mas vamos ficar com os R$ 3 milhões. Esse custo é altíssimo para um estádio em Cuiabá.
Vamos ler bastante hoje, assessor Fernando? O Estado de São Paulo publicou no dia 23, há quatro dias, a confirmação de Santos e Atlético Mineiro na Arena Cuiabá. O site esportivo da Globo confirma o que vários veículos mato-grossenses publicam. O governo do Mato Grosso, repito para ficar gravado na sua memória, pagará R$ 1,2 milhão para o Santos enfrentar o Atlético Mineiro no novo estádio. Em duas parcelas de R$ 600 mil.
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/santos/noticia/2014/04/santos-escolhe-arena-pantanal-diante-do-galo-e-estuda-morumbi-contra-fla.html
Maneira artificial de ter público no estádio. A estratégia será essa até quando? O governo pagando para times de fora jogar no estádio só mostra a sua inutilidade. E vai apequenar ainda mais os clubes locais. Ou a população pagará para ver as fortes equipes de fora ou as fracas do Mato Grosso, assessor Fernando?
Em 2013, o governo prometeu a construção de um hospital regional de Porto Alegre do Norte. Na região do Norte Araguaia. Serviria para 25 mil pessoas, de 25 municípios diferentes. Deveria ter 259 leitos. Só que até agora, nada. Te interessa isso,assessor Fernando? Talvez, não.
Você que recebe para defender a Arena Pantanal diz que as minhas críticas foram infundadas. E que não compareci no triste, para mim, Santos e Mixto. Nisso tem razão. Não sou mesmo onipresente. Mas o que não me impede, graças a Deus, de poder ler, telefonar, me informar sobre o que acontece no mundo. Tudo que é publicado aqui neste espaço é checado.
Seria interessante ler essa matéria do Diário de Cuiabá. http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=449071 "Arena Pantanal é inaugurada sem gols." Esse é o título. Para não cansá-lo muito, só reproduzo o primeiro parágrafo.
"Sem ar condicionado no vestiário do Santos, alagamento no entorno da arena, operários da obra sendo obrigados a assistir o jogo nas arquibancadas superiores, sentados no cimento e sem o carrinho para atender os jogadores que caiam no gramado, a Arena Pantanal foi oficialmente inaugurada, ainda inacabada, na noite de ontem, com o jogo entre Mixto e Santos pela Copa do Brasil."
Destaco a singela frase: 'operários da obra sendo obrigados a assistir o jogo nas arquibancadas superiores no cimento'. Não custa repetir para ficar muito claro. "Obrigados a assistir o jogo nas arquibancadas superiores. No cimento"!
Recomendo também a leitura desta matéria publicada pelo site esportivo da Globo e distribuída por todo o país.
http://www.centralbrasileirao.com.br/time/santos/noticia/25469/inacabada-arena-pantanal-precisa-de-ajustes-e-corre-contra-o-tempo#
Posso facilitar novamente. E reproduzir um trecho sobre o fatídico jogo. Vale a pena gastar um tempo lendo,assessor Fernando.
"Operários no chão e sem acesso
Cerca de mil operários da Arena Pantanal receberam ingressos para acompanhar a partida, mas não saíram satisfeitos. A primeira reclamação foi por terem que sentar no chão, já que o setor superior do estádio não tinha cadeiras. A segunda que os ingressos puderam ser retirados apenas às 16h desta quarta-feira. A terceira e mais comentada por todos esteve na separação entre operários e torcedores comuns. Eles tiveram acesso por apenas um portão para entrar no estádio e não puderam frequentar as áreas comuns, como bares e banheiros. Um cordão de policiais, além de grades separavam os trabalhadores dos torcedores.
- Trabalhamos duro aqui e não pudemos nem sentar nas cadeiras. No bar que tivemos acesso, não tinha comida. Acho uma sacanagem conosco, já que fizemos parte dessa construção e na hora da parte boa nos deixam desse jeito – disse o montador Edinaldo Santana.
Para justificar o isolamento, a empresa responsável pela organização do jogo, afirmou que a presença de mais pessoas nas arquibancadas poderia causar tumulto, já que a capacidade de ingressos estava esgotada."
A matéria foi escrita do estádio. Repito um trecho, caso não tenha prestado atenção. "Eles tiveram acesso por apenas um portão para entrar no estádio e não puderam frequentar as áreas comuns, como bares e banheiros. Um cordão de policiais, além de grades separavam os trabalhadores dos torcedores."
Reproduzo aqui a definição da palavra segregação no dicionário Aurélio." Separar nitidamente com o fim de isolar e evitar contato: os brancos da África do Sul segregam os negros. / Expelir, operar a secreção de: segregar bílis. / &151; V.pr. Afastar-se, pôr-se à margem de; isolar-se: segregar-se do convívio social indo para o campo."
Separar nitidamente com o fim de isolar e evitar contato. Preste atenção, assessor Fernando. "Funcionários não podiam frequentar as áreas comuns, como bares e banheiros. Um cordão de policiais, além de grades separavam os trabalhadores dos torcedores." Ou seja, os isolavam, evitavam o contato com quem pagou para entrar. Na minha modesta opinião, com meus poucos neurônios, significa segregar.
Na minha opinião, a Secopa não fez nenhum favor em dar os ingressos aos operários. Não para sentarem no cimento cru, sem cadeiras. Para mim eles serviram apenas como figurantes. Preencher com pessoas fotografias de um estádio inacabado. Como os que posaram para Dilma Rousseff chutar uma bola.
Acho lamentável o que aconteceu na noite de Mixto e Santos. Vários levaram esposas e filhos. Colocá-los no cimento enquanto os pagantes se sentavam em cadeiras confortáveis, instaladas por eles mesmos, me envergonharia. Com o Aurélio do meu lado, repito: segregação.
Última matéria, assessor Fernando. Juro, para não cansar sua vista. É do UOL. http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/11/governador-mandou-atrasar-obra-da-arena-pantanal-diz-ex-secretario-de-mt.htm Reproduzo um parágrafo em sua homenagem.
"Em 2012, o governador (Silval Barbosa) mandou que eu atrasasse a obra, para que o equipamento não deteriorasse com o tempo e não gerasse um custo extra de manutenção", disse Moraes. Apesar da ordem do chefe do Executivo estadual, o então secretário da Secopa MT teria se recusado a atrasar os trabalhos, conforme afirmou, em entrevista gravada ao UOL Esporte:
"Eu contestei isso (a ordem de atrasar a obra). Eu coloquei ao governador que, independentemente do período de manutenção ou não, toda vez que você faz uma redução no ritmo da obra, você desmobiliza. E para você mobilizar novamente leva um tempo para fazer essa adequação. Então, na minha concepção, era um risco alto. Então, enquanto eu estava secretário, eu não fiz isso."
"De qualquer maneira, fato é que a obra está atrasada em mais de um ano em relação à sua data de entrega original. O que teria levado a este atraso, na opinião de Eder Moraes? "Logo na sequência (da solicitação do governador), eu deixei a secretaria, e não sei se o Maurício (Guimarães, atual secretário da Secopa) atendeu, mas, pelo jeito, atendeu a essa recomendação."
Quem fez essas afirmações foi o ex-secretário da Secopa do Mato Grosso, Eder Moraes. Ele cita literalmente seu patrão, assessor Fernando.
Há outras matérias interessantes sobre a Arena Pantanal.
E cada uma delas me convence que ela não deveria ser construída.
'Incorreta', assessor, é sua visão distorcida da realidade do país em que vive.
Mais, no e-mail que você me manda, assessor Fernando, me chama de 'velho parceiro'. Não sou e nunca serei próximo a você. Ainda mais hoje, quando recebe para defender um estádio que é um elefante branco de mais de meio bilhão de reais.
A sua resposta profissional está aí publicada. Peço que nos próximos e-mails, se vierem, assine só seu nome. Ainda mais depois do seu envolvimento profissional com esta arena custeada com o dinheiro público.
Para mim, um desperdício de R$ 570 milhões para o Mato Grosso.
Para os brasileiros.
Que você continue trabalhando e justificando seu salário.
Mas não se atreva a me chamar de parceiro...
Cosme Rímoli...
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