14/04/2014 11:15:16
A formação de equipes de trabalho


multidisciplinares no futebol
Ciência e Futebol devem caminhar juntos e os dirigentes das equipes devem ter esta consciência; cabe aos profissionais promoverem esta integralização
Marcelo Guimarães Silva*


Nos últimos anos o treinamento para jogadores de futebol de alto nível vem sofrendo modificação substancial em relação ao que era feito algumas décadas atrás.
O número de jogos e de horas dedicadas às sessões de treinamentos aumentou significativamente. Desde então a dinâmica das cargas de treinamento também foi alterada, em decorrência da entrada de novos conceitos para a prática do futebol na atualidade; assim como a entrada de novas áreas de especializações de trabalho voltadas exclusivamente para o esporte.
O futebol moderno exige cada vez mais que as equipes sejam profissionalizadas em todos os setores; principalmente aos que condizem ao trabalho conduzido com os atletas, que “teoricamente” devem ser considerados um dos bens mais valiosos da equipe, mas que infelizmente acabam não na maioria das vezes não sendo.
Atualmente para se alcançar resultados não basta somente ter jogadores de qualidade no elenco, porém é preciso que haja uma estrutura de alto nível, que dê total suporte às necessidades dos atletas (bio-psico-sociais), trabalhando de maneira integrada dentro e fora dos gramados. Não se admite mais trabalhos ou estratégias desenvolvidas de maneira isolada, sem a participação dos profissionais que atuam na equipe, a integralização de setores é uma realidade mais que presente e deve ser constante nas equipes; não pode ser uma prática apenas de “papel”.
Os clubes europeus já observaram esta necessidade e há um bom tempo trabalham de maneira integrada com seus profissionais. Os resultados, podemos perceber na prática, durante os Campeonatos e Torneios em que estas equipes disputam ao longo da temporada. Um dos fatores que certamente levam a este case de sucesso no futebol está na montagem e preparação da estrutura da comissão técnica com todos os setores atuando de maneira integrada.
O que vemos hoje são as grandes equipes do futebol brasileiro (estados do RJ, SP, MG, RS) que contam com uma equipe multidisciplinar, tais como: Médico, Fisioterapeuta, Preparador Físico, Psicólogo, Nutricionista, entre outros; como sendo as áreas com profissionais básicos para todas as equipes, e em alguns clubes encontramos ainda dentistas, biomecânicos, estatísticos, terapeutas, etc. Os outros Estados não foram citados, pois são poucos os clubes que apresentam esta estrutura.
É garantido que equipes que atuam com comissões integradas sempre sejam as vencedoras? Não! Isto não é garantia de 100% de resultados satisfatórios, mas certamente a probabilidade de alcançar o SUCESSO é muito maior, haja vista a prática demonstrada pela performance dos profissionais (atletas). O investimento não é baixo, mas o retorno é confiável. Se compararmos o desempenho de equipes de menor investimento com as de maior, observaremos que não basta apenas o “plantel” de jogadores da equipe, mas a estruturação destas equipes torna-se cada vez mais o diferencial do SUCESSO.
É notório o desenvolvimento de especialistas no futebol, temos profissionais de diferentes áreas que trabalham exclusivamente com o esporte, especificamente o futebol, e podem contribuir para o desenvolvimento profissional das equipes. Se pararmos para analisar, antes da década de 70, nem ouvíamos falar em preparador físico; a psicologia no futebol somente teve sua participação comprovadamente reconhecida na prática a partir de meados dos anos 90, bem como os fisiologistas nos anos 80.
Destacam-se atualmente duas áreas que estão fazendo muita diferença, não apenas no futebol, mas em diversas outras modalidades esportivas; que são a Biomecânica (estudo e análise do movimento e de suas causas) e a Estatística (Sub-área da Matemática que estuda análises e fatores intervenientes de um determinado fenômeno).
Certamente surgirão em pouco tempo novas áreas voltadas a atender da maneira mais precisa seus atletas, proporcionando resultados confiáveis e aplicáveis. Devemos pensar não apenas na performance esportiva, mas no atleta em sua TOTALIDADE. 

É importante lembrar que este trabalho multidisciplinar deve ter início nas categorias de base; mesmo sabendo que possuem menos recursos financeiros que a categoria profissional, devem contar com o mínimo de profissionais integralizados num rumo planejado, numa direção única, desenvolvendo uma parceria produtiva, tanto para as equipes como para seus atletas. As categorias de base são de extrema importância para as equipes e muitas vezes são tratadas com descaso por seus dirigentes e coordenadores, que não investem o suficiente para que estes atletas tenham o mínimo suficiente de estrutura, e torna-se algo contraditório, pois é nesta fase da vida que os atletas necessitam de maior estrutura, e o que vemos na maior parte das equipes não condiz com o IDEAL.

Ciência e Futebol devem caminhar juntos e os dirigentes das equipes devem ter esta consciência, cabe aos profissionais não somente aos da área da saúde, mas supervisores e coordenadores técnicos promoverem esta integralização.
Pesquisas mostram que os investimentos nesta área apresentam retorno e os resultados são positivos, mostrando a evolução permanente das equipes.

*Aluno de Doutorado do curso de Engenharia Mecânica/Biociências da UNESP – Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – Campus de Guaratinguetá

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