Em palestra, Miguel
Nicolelis apresentou alguns elementos que possibilitam ampliar-se a
percepção dos jogadores de futebol em suas ações motoras básicas
João Paulo Medina
O
neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, importante pesquisador,
radicado nos EUA, utilizou, em um dos capítulos de seu livro "Muito além
do nosso eu", o quarto gol do Brasil contra a Itália, na final da Copa
de 1970, como exemplo para discutir a plasticidade e a interação dos
neurônios e dos circuitos cerebrais. O pesquisador contou em detalhes,
tão bem quanto os melhores narradores e comentaristas esportivos, como
oito jogadores trocaram passes, durante 30 segundos, sem interrupção.
Ele disse, e concordo, que nenhum dos oito atletas tinha a ideia sobre o
que seria o resultado final de sua interação com os companheiros, além
de ser impossível planejar o lance. Já os reducionistas, lembrou o
neurocientista, tentariam explicar a complexidade da jogada estudando as
características de cada jogador e separando as ações de cada um no
momento da jogada.
(Tostão, na Folha de S. Paulo; 17/07/2011)
(Tostão, na Folha de S. Paulo; 17/07/2011)
É inegável a importância da ciência para o desenvolvimento do esporte de
forma geral. Porém paradoxalmente não podemos dizer que o conhecimento
científico tenha ainda, em pleno século 21, livre trânsito nos clubes de
futebol.
Se por um lado, podemos constatar que certos saberes em áreas como a
fisiologia do esforço, biomecânica, estatística, estejam presentes no
dia-a-dia das comissões técnicas, há outros que ainda não fazem parte
das preocupações dos profissionais que trabalham na formação e
desenvolvimento dos atletas. É o caso de conhecimentos sobre
neurociência aplicada, por exemplo.
No último dia 20 de agosto esteve no Museu do Futebol em São Paulo,
para a realização de uma palestra, o Dr. Miguel Ângelo Laporta
Nicolelis, pesquisador da Universidade de Duke (EUA), fundador do
Instituto Internacional de Neurociências de Natal (RN) e considerado um
dos mais destacados cientistas no início deste século, pela revista
Scientific American.
Dr. Miguel Nicolelis fala sobre a genialidade de Pelé no Museu do Futebol
O tema escolhido por Miguel Nicolelis, que é
um palmeirense fanático, foi "Como o Cérebro Incorpora a Bola" e que
tratou da relação entre a neurociência e o futebol, além de noções sobre
seu inovador trabalho de pesquisa.
Durante 60 minutos, misturando seu profundo conhecimento científico
com uma incontida paixão pelo futebol, desenvolveu ideias originais
sobre a relação metafórica entre o cérebro humano e o universo, a
realidade como um grande delírio, tempestade e sinfonia elétrica
cerebrais, reflexo e modelo neurais, entre outros assuntos relacionados à
neurociência.
No que se refere ao futebol, o destaque ficou por conta de
considerações a respeito da genialidade de grandes futebolistas e em
especial de Pelé e sua impressionante capacidade perceptiva. Em essência
procurou trazer alguns elementos que possibilitam ampliar-se a
percepção dos jogadores de futebol em suas ações motoras básicas.
O assunto é ainda muito polêmico, mas ao mesmo tempo instigante. E se
não puder trazer luzes, muito provavelmente trará pistas interessantes
para os profissionais que estudam e procuram desenvolver a metodologia
do treinamento no futebol de forma cientifica e séria.
Para os interessados nestas questões ligadas à neurociência sugerimos
a leitura do livro de Miguel Nicolelis "Muito Além do Nosso Eu",
Editora Companhia Das Letras.
*Texto originalmente publicado no Blog do Medina
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