Inversão de Valores - Universidade do Futebol

O presente artigo retrata a inversão de valores e os desdobramentos que isso causa no esporte.
Por Cezar Tegon.

Inversão de Valores
Quando ser bom se torna ruim
Desde os primórdios, para sobreviver e evoluir em nosso planeta os seres vivos precisam se esforçar. Dessa forma, sobrevivem os que lutam com mais garra, os que aprendem mais rápido e são mais adaptados, os que exercitam suas habilidades e usam suas experiências para melhorar etc. No mundo natural, esta lógica continua válida, ou seja, esta é a conduta que leva qualquer espécie a alcançar o sucesso.
No entanto, na vida prática das pessoas, tenho visto esta lógica ser desafiada dia a dia. Em um tempo não muito distante, observávamos os mais esforçados sobressaírem-se. Os que nasciam com algum talento e que eram dedicados e perseverantes eram reconhecidos como gênios e outros com menos talento - mas não menos dedicação - eram reconhecidos como guerreiros.
O que tinham em comum os gênios e guerreiros? Ambos recebiam seus “prêmios” pelo esforço e perseverança e, por esta razão, ocupavam posições de destaque na vida. Esses eram os líderes de comunidades, comandavam tribos, controlavam a produção, enfim, eram pessoas admiradas.
Dentro desta lógica podemos concluir que o funcionário mais esforçado é valorizado e serve de inspiração aos outros, o estudante mais dedicado é a referência da turma, o atleta mais comprometido e aplicado é reconhecido pelo público. Obvio e certo, não é? Não!
Hoje, no campo das atividades humanas, esta lógica vem se invertendo radicalmente, seja em empresas, ambientes de ensino, clubes esportivos ou outras instituições.
Hoje o funcionário mais dedicado e comprometido virou o chato, “puxa-saco” dos superiores, o aluno dedicado que deveria ser a referência da turma virou o nerd, "CDF" e o atleta mais aplicado virou o “vilão”, pois faz elevar o nível de exigência dos outros membros do grupo.
Tenho certeza que, ao lerem esses exemplos, automaticamente se lembrarão de pessoas bem próximas, que ao invés de serem admirados e servirem como referências como acontecia no passado, hoje são taxados por adjetivos pejorativos. Esses acabam, muitas vezes, até excluídos de seus grupos e privados das oportunidades que fariam jus pela ordem natural das coisas.
Para ficar mais claro, dou dois exemplos de pessoas públicas que atuam no esporte e que pagam um preço alto por serem muito dedicados e, acima da média, são fatos recentes e que mostram claramente esta realidade:
1) Um é o Tite, técnico do Corinthians. Trata-se de um profissional vencedor, que permaneceria em qualquer clube da Europa por muito tempo. No entanto, não teve seu contrato renovado com a justificativa de que o clube precisa "reciclar o ambiente". Na verdade, ele trabalha muito e incomoda muita gente, então criaram um motivo!
2) Outro exemplo é o Rogério Ceni, lendário goleiro do São Paulo. Ele acaba de estabelecer a marca de 1.117 jogos pelo clube, um recorde mundial. Alguém que deveria ser orgulho para o nosso esporte, é taxado como "fominha" que joga até amistoso, que não quer ficar de fora nunca. Isso é ruim? Claro que não, isso é ótimo, mas não para os dias de hoje!
É fácil entender porque estas coisas acontecem não só em clubes de futebol mas também nas empresas, por isso divido com vocês minha visão sobre o tema:
Excluindo quem se destaca, automaticamente o nível fica mais baixo e todos ficam mais confortáveis, sendo mais simples justificar as incompetência e a falta de esforço.
Esta é uma atitude natural de auto-preservação da incompetência, que limita a evolução em todos os sentidos e claro isso afeta empresas, educação, esporte e todos os segmentos onde se pratique essa "barbárie" de comportamento.
No caso de nossos exemplos, vale lembrar que o Tite ganhou a Libertadores, o Mundial de Clubes, a Recopa, o Campeonato Brasileiro entre outros. O Ceni fez mais de 1.117 jogos pelo seu São Paulo e, mesmo sendo goleiro, fez mais de 100 gols.
Ser reconhecido é um desejo natural, mas lembro que para atingir resultados diferenciados ambos tiveram que abdicar de muitos prazeres da vida para se destacarem em suas profissões.
Recompensar de maneira diferenciada os mais esforçados, acreditem, é a ordem natural das coisas. Tanto que as empresas descobriram que as pessoas ficam mais felizes quando existe meritocracia, que significa simplesmente valorizar quem se destaca, quem se esforça mais.
A boa notícia é que, mesmo com essa inversão de valores, noto que quem se esforça, tem vontade e perseverança, trabalha com amor, é curioso e estudioso acaba se destacando entre tantos outros indivíduos. Para os demais, os que não se esforçam, restará continuar se lamentando e criticando quem faz acontecer.
Escolha de que lado prefere estar. Reflita sobre isso e lembre-se que você pode fazer a diferença sempre!

*Cezar Antonio Tegon é graduado em Estudos Sociais, Administração de Empresas e Direito. É Presidente da Elancers e Sócio Diretor da Consultants Group by Tegon. Com experiência de 30 anos na área de RH, é pioneiro no Brasil em construção e implementação de soluções informatizadas para RH. Palestrante em vários congressos e universidades sobre temas relacionados à Gestão de Pessoas, Tecnologia da Informação e Perfil Comportamental.

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