Por Paulo Capela (professor UFSC) e Elaine Tavares (Jornalista)
Os esportes transformaram-se num dos maiores eventos de massa da modernidade. Estima-se que as Olimpíadas e a Copa do Mundo de Futebol sejam assistidas por aproximadamente 4 bilhões de pessoas, ou seja, mais da metade da população planetária; portanto, os megaeventos esportivos Copa do Mundo de Futebol 2014 e as Olimpíadas de 2016, a realizarem-se no Brasil, trarão para o país e para todo o continente latino-americano, antes, durante e após sua realização, muitos desafios e implicações culturais. Nesse sentido, o Iela incorpora esse tema na sua discussão anual, dentro do seu principal evento que são as Jornadas Bolivarianas. Para isso traz pesquisadores e estudiosos do tema de países que já foram sede de eventos semelhantes para discutir criticamente como se dará o processo de preparação desses eventos e qual o legado que eles deixam aos povos.
Os esportes, sob a forma de espetáculos midiáticos, muito mais do que jogos são o principal fato social de massa que nossa civilização já produziu. Estimam-se gastos na ordem de 200 bilhões de reais para a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Brasil, produzindo impactos muito significativos sobre as atividades econômicas, sociais, culturais e educacionais não só no país como em toda a América Latina. Estima-se também que 60% desse valor serão suportados pelo Estado Brasileiro nas esferas municipal, estadual e federal. Os megaeventos, forma atual de organização da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas, são formulações econômicas produzidas para o enfrentamento da crise pela qual passam os estados nacionais capitalistas e que começam também a ser adotadas como forma política de estado em países empobrecidos e emergentes.
Diante da incapacidade do estado capitalista de atender de forma equânime a todas as populações nacionais constituintes de suas cidades, este mesmo estado promove entre elas, em razão da escassez de recursos públicos, acirradas competições. Essa lógica aparentemente produz algumas ilhas de modernidade, mas de forma geral empobrece os países-sede desses eventos, promovendo o subdesenvolvimento, ou seja, mais pobreza sistêmica. Assim sendo, os megaeventos esportivos Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016 chegam ao Brasil como parte de acordos internacionais da diplomacia do governo brasileiro, cujas implicações e impactos para o país e para o continente precisam ser entendidos, melhor estudados e analisados sob uma ótica científica interdisciplinar, pois é um fato social que agrega muitos campos de intervenção profissional e de investigação científica (arquitetura e arquitetura urbana, planejamento urbano, políticas públicas de educação, cultura, esporte, saúde, lazer, turismo, economia, integração continental e dos povos, educação esportiva, jornalismo esportivo, mídia, entre outros). Apesar dos grandes impactos sociais provocados pelos megaeventos, este assunto tem sido ainda pouco debatido e estudado no ambiente científico universitário latino-americano, principalmente sob o ponto de vista do pensamento sociológico crítico.
É preciso entender melhor os processos que com isso serão gerados, ou seja, a criação de regimes jurídicos de exceção no país; a exacerbada concorrência entre cidades para sediar suas etapas; o grau superlativo de experimentação a que serão submetidos os atletas olímpicos, colocando em risco sua saúde; como será realizada a remoção de populações empobrecidas das cidades onde ocorrerão os megaeventos; qual a relevância social das obras de infraestrutura urbana que estão sendo realizadas; quais as concepções conceituais adotadas para a construção dos equipamentos de esportes; enfim, é preciso melhor elucidar o legado dos megaeventos esportivos sobre a vida econômica, cultural, política, educacional e esportiva no Brasil e no continente latino-americano. Os dilemas que vimos enunciando fizeram com que os membros e pesquisadores do IELA propusessem como tema da IX Jornada Bolivariana Megaeventos Esportivos - seus impactos, consequências e legados para o continente latino-americano.
O debate se faz extremamente necessário na medida em que o Brasil vai sediar esses dois megaeventos, o que já está provocando e ainda provocará profundas alterações na vida das cidades e do país. Debater sobre o legado deixado nos países que já vieram essa experiência pode ajudar a construir uma proposta nacional-popular que avance no sentido de a população se apropriar verdadeiramente do resultado desses eventos.
Um evento dessa natureza é importante porque fortalece o trabalho desenvolvido pelo Iela que é de pensar a realidade latino-americana no bojo de sua problemática emergente. Os megaeventos estão mexendo com a vida do país desde há alguns anos e deverão deixar impactos econômicos, políticos e culturais muito fortes. Debater sobre eles e construir uma proposta de cunho popular é tarefa do pensamento crítico, elemento básico do trabalho do Instituto. Os impactos de tal evento poderão ser acompanhados na constituição de uma reflexão crítica sobre o tema e na construção de uma proposta nacional-popular para a apropriação dos espaços por parte da população brasileira. Como resultado haveremos de ter muitos estudos sendo feitos dentro dessa perspectiva, além da publicação de livro com o teor das conferências.
Então, na espera de realizarmos bons debates, já está aberta a chamada para artigos.
Ver no blog: http://jornadasbolivarianas. blogspot.com.br/
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