Há uma frase histórica do poeta português Fernando Pessoa que penso se prestar para introduzir nosso diálogo, ele dizia: “Cultura primeiro a gente estranha depois a gente entranha”, pois bem, quando o tema é esporte existe uma cultura já dada, a qual já não se ousa fazer perguntas originais, não se estranha nada que orbite em seu entorno, parece que o mundo esportivo que chega em nossas casas todos os dias não carece de reflexão, esclarecimentos, estranhamentos, críticas, ou ainda, o esporte de outras formas originais de ser praticado.
Quando muito, por exemplo, em meu campo, a Educação Física, as novidades nos esportes são: as trocas de regras; os novos métodos de treinamento; os novos equipamentos; os novos suplementos alimentares capazes de aumentar as performances; ou novas tecnologias que permitiram um melhor controle dos dados e assim melhoras de rendimento, e novas esperanças de mais êxito, e mais, mais, mais rendimento.
Nosso livro é um livro que não se filia aos conceitos tradicionais dos esportes e nem as tradicionais “novidades do esporte”.
É uma obra que foi escrita para produzir estranhamentos sobre a cultura do senso comum das verdades consideradas como única do mundo esportivo.
Para nós o esporte é uma construção humana social, com autores e atores dos quais conhecemos muito pouco. Do esporte conhecemos, muitas das vezes, apenas alguns atletas e dirigentes, que quando se pronunciam publicamente estão, muita das vezes, encenando scripts muito bem escritos por seus assessores de imprensa, ou patrocinadores.
Em nosso livro, revisitamos os bastidores e a própria cultura esportiva dada. Como pesquisadores desvelamos muitos fatos que não são de domínio comum.
Nesta Obra mostramos com dados que o esporte é um grande negócio; que é uma prática anti-vida, portanto, deterioradora da saúde das pessoas e dos atletas, tanto os atletas de alto-rendimento, quanto os demais praticantes de diferentes níveis intermediários entre o alto rendimento e os que não praticam esportes porque aprenderam a não gostar dele.
Apontamos nesta obra que, se não mudarmos sua estrutura, ele, o esporte, não será capaz de cumprir grande parte de suas promessas. Promessas, muitas delas, feitas por autoridades públicas e dirigentes esportivos, expressas concretamente em programas governamentais e clubísticos, ou feitas e contidas por quem deveria zelar por esclarecer as novas gerações sobre os fatos dos esportes, os professores de Educação Física das escolas.
Nós, os autores deste livro, mesmo reconhecendo que o esporte é o principal fenômeno de massa da humanidade, entendemos também que ainda não possui em igual escala reflexões e pesquisas capazes de produzir estranhamentos sobre ele, principalmente nos países da América Latina, isto nos estimulou muito a escrever este livro!
Ainda não há estudos suficientes produzidos em nossos países capazes de duvidar das promessas feitas no esporte de que, por exemplo: esporte é sinônimo de saúde; de que o esporte promove integração entre os povos; de que o esporte combate a marginalidade e as drogas, enfim, poucas vezes se questiona o alcance destas promessas, de seus fatos, da cultura que gera e de como ela vem sendo constituída em suas relações de poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário