Futebol e ciência: a necessidade de um novo sentido e de um novo significado. - Parte 2


No primeiro momento, entendemos que talvez nenhum outro procedimento cientifico tenha trazido tanta contribuição na forma de pensar nos últimos anos do que a teoria cartesiana e a física clássica (representada por Galileu, Copérnico e Newton). A divisão cartesiana permitiu aos cientistas ver o mundo material como algo morto, separado inteiramente de si mesmo, entendendo este como uma grande máquina de grandes proporções.
A ciência moderna traz consigo um modelo de pensamento onde só é possível compreender o mundo a partir de sua dominação. Para esta ciência, o conhecimento é sinônimo de domínio, o domínio do “desconhecido”, do alheio, do “outro”, e se é necessário dominar, a primeira condição é afastar. A relação sujeito-objeto nos moldes científicos torna-se então uma dupla relação; a primeira de afastamento, e a segunda de dominação.
Dominar a natureza (entendida como objeto) nos moldes científicos impõe ao sujeito/ou seres humanos, uma dura realidade; a dominação de si próprio. Pois se somos parte da natureza, ou somos ela própria, não há domínio da primeira sem acontecer o domínio do segundo. O domínio do sujeito moderno recai então sobre si mesmo, sobre seu corpo, e na forma dialética, sobre a natureza novamente.
Talvez seja justamente no esporte uma das melhores expressões da filosofia cartesiana, e da física clássica. Tenho dúvidas sobre qual outro contexto, o domínio do corpo aparece de forma tão extremada. È justamente no esporte que o modelo de ciência que acima menciono, transparece da melhor forma.
No segundo momento está presente fortemente a idéia do mundo como uma grande máquina, funcionando a partir de operações matemáticas previsíveis. No ideal cartesiano, o mundo material está longe da vida ou espiritualidade.
A idéia de um corpo funcionando tal como uma máquina é a estratificação do pensamento de um mundo e sistema social também funcionando como uma grande máquina, onde o todo é representado pela justaposição de suas partes. O corpo cartesiano era apenas o somatório de peças funcionando de formas isoladas a garantir o funcionamento deste todo.
Esse corpo máquina era desprovido de sentidos e significados, apenas “peças” em justaposição, o que no pensamento moderno o desgaste de uma delas pode ser trocado por outra de mesma forma e função, continuando o mesmo a funcionar até o seu “desgaste” total.  
Qual a reflexão que trazemos disto para nosso contexto, ou seja, para o entendimento do esporte? Na lógica do esporte moderno, o corpo só deve operar sob o rendimento máximo, para isto o trato dado ao corpo (ao meu e dos outros) passa a ser ao de uma máquina que deve funcionar sob quaisquer circunstâncias. À maquina não importa o sentido nem o significado do movimento, mas só o movimento por si próprio, para isto uma boa técnica é o necessário. Tão pouco a máquina tem sentimentos (alegrias, prazeres, angustias, medos e dores), pois como tal está alheia a tudo isto.
Autor: Prof. Julio Couto


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