Ricardo Teixeira Perde Mais Uma

Por Juca Kfouri
Em 20 de agosto de 2009, cinco anos atrás, portanto, publiquei a coluna abaixo, na “Folha de S.Paulo”:
A fala do trono
Certo de que nada mais o atinge depois de sobreviver a tantos escândalos, o presidente da CBF se abre
REI RICARDO I , e Único, chegou quase uma hora atrasado para falar aos seus súditos na segunda-feira passada.
Aquele que pagava a conta, o empresário Abílio Diniz, estava compreensivelmente contrariado e irritado. Mas fazer o quê?
O rei sempre tem justificativas para tudo, seja para se recusar a responder sobre a condenação que custou seus direitos políticos por três anos, seja para dizer que não foi bem entendido quando disse que não entraria dinheiro público nos estádios para a Copa-2014.
Franco, revelou que, ao escolher Dunga, estava convencido de que a seleção não precisava de um grande técnico, mas de um comandante, algo que o treinador certamente preferia não ter que ouvir, ainda mais agora, quando já convencido de que é um grande, extraordinário treinador.
E, dissimulado, o rei quis minimizar a responsabilidade da farra em Weggis no fracasso da seleção na última Copa do Mundo, ao ponderar que, depois da esbórnia na Suíça, houve tempo suficiente de treinamentos na Alemanha, esquecido de que foi na temporada no cantão que se estabeleceram os usos e costumes para a Copa de 2006, a ponto de a bagunça continuar até durante o seu desenrolar. E por falta de comando, não só do técnico que, então, revelou-se um banana mas também do principal comandante, ele mesmo, imperialmente desmoralizado pelo descompromisso dos jogadores.
Chega a ser engraçado como o número 1 de nosso futebol se exime de responsabilidades e ainda acha de criticar os clubes que, diga-se, merecem mesmo as críticas, principalmente pela subserviência que demonstram ao permitir que o que deveria ser meio tenha virado um fim em si mesmo, a CBF.
Rei Ricardo I, o Rico Terra, para os íntimos, imagina que a Casa Bandida do Futebol seja um paraíso e critica até seu cardiologista, tão leal que lhe deu um atestado médico para que não fosse depor na CPI do Futebol, o presidente do Fluminense, clube que mais troca técnicos no país, 17 vezes em menos de sete anos. Mas o rei mostrou uma nova face, associando-se a um grupo que vem crescendo no mundo do futebol, o dos que sofrem de complexo de perseguição.
Rico Terra se queixou de que existem os que fazem de bater nele o seu esporte predileto, como se fosse um são Sebastião, alvejado por flechas assassinas.
Ora, é muito simples deixar de ser alvo. Bastará ir curtir o que amealhou nestes últimos 20 anos e deixar o futebol em paz, como fez um ex- -presidente da Federação Paulista de Futebol, nunca mais citado na imprensa séria de São Paulo.
Só que semelhante despedida nem passa por sua coroada cabeça, agora que é o todo-poderoso comandante da Copa do Mundo no Brasil, passaporte para o sonho final, a presidência da Fifa, lá na Suíça, em Zurique, pertinho de Weggis, para continuar a festa que alguns poucos jornalistas denunciavam como absurda, ele negava assim como seus bajuladores e agora, depois de ele mesmo ter diabolizado, começa a querer rever, tamanha a certeza de sua impunidade. A ponto de sair falando por aí, a torto e a direito. Direito?
Ricardo Teixeira não gostou de ser chamado de Ricardo I, nem de dissimulado nem da referência à Casa Bandida do Futebol e me acionou na Justiça.
Em primeira instância, a sentença me absolveu nestes termos: “Em seu texto, o réu, jornalista, descreve a sua opinião sobre alguns fatos, não havendo dúvida de que certa dose de acidez e ironia faz parte da crítica esportiva. Com efeito, o demandado não extrapolou os limites da liberdade de imprensa e, no exercício regular de sua profissão, divulgou fatos e emitiu juízo de valor sobre a conduta dos autores. Dessa forma, não restou configurado, no caso dos autos, excesso da liberdade de informação e tampouco ofensa à honra objetiva da entidade primeira autora bem como à honra objetiva e/ou subjetiva do segundo autor”.
Teixeira recorreu e o Tribunal de Justiça do Rio acaba de ratificar como improcedente a ação movida pelo ex-cartola — que acabou tendo de ir embora do país e, agora, ao vislumbrar que os seus têm chances de voltar ao poder em Brasília, procura reatar laços, como publicado na nota imediatamente anterior a esta.

O Ministério do Esporte no Próximo Governo

Por José Cruz

22/09/2014

A campanha eleitoral trouxe ao debate a importância do Ministério do Esporte no próximo governo. A um ano e meio dos Jogos Rio 2016, especialistas discutem sobre o assunto, como Alexandre Machado da Rosa, mestre em Educação Física pela Unicamp, membro do observatório de políticas públicas de esporte e lazer e pesquisador do futebol. Jornalista, Alexandre também é o autor e organizador do livro “Esporte e Sociedade, ações socioculturais para a cidadania”.
Este artigo foi publicado, originalmente, pelo CEV – Centro Esportivo Virtual
Ministério do Esporte, para quê, afinal?
Por Alexandre Machado da Rosa
Em meio ao debate eleitoral, a candidata à presidência, Marina Silva acenou com a possibilidade de, se for eleita, extinguir o Ministério do Esporte. Rapidamente, o atual ministro do esporte, Aldo Rebelo, fez duras críticas a esta possibilidade, chamando a atenção para os Jogos Rio 2016 e as necessidades de cuidar dos preparativos do maior evento esportivo do Planeta.
Mas, afinal, para quê serve o Ministério do Esporte? Aonde se localiza o esporte no Brasil? Na Educação? Na cultura? Na economia? Enfim…
O Ministério do Esporte foi criado em 2003 para elevar o esporte à condição de direito social, assim como estabelece a Constituição. Nesse caminho, foram realizadas duas Conferências do Esporte significativas, ao mesmo tempo em que foram descartadas a seguir com a realização da terceira conferência, que praticamente capitulou diante do sistema esportivo atual.
Vale ressaltar que o Estado brasileiro delegou à iniciativa privada a gestão do esporte desde o início do século 20, se consolidando com o Decreto lei 3199/1941, expedido durante a ditadura do estado novo, na Era Vargas. Ou seja, a gestão do esporte no Brasil se caracteriza pelo seu caráter liberal.
Apesar de, ao longo de um século, existir a figura do Conselho Nacional do Esporte, a gestão efetiva do planejamento e execução de projetos esportivos têm sido feita pelas entidades que compõem o sistema esportivo brasileiro ou seja, o COB – Comitê Olímpico Brasileiro, as Confederações e as federações nos estados. Como gostam de sinalizar os advogados: o campo esportivo brasileiro é de interesse público, mas de direito privado.
Vale ressaltar que o financiamento do esporte no Brasil é feito essencialmente com recursos públicos. Sejam eles oriundos do orçamento do Estado ou de instituições públicas, como Correios, Caixa, Banco do Brasil, Eletrobrás, Petrobras entre outras. Então, diante deste cenário, que papel pode exercer um Ministério exclusivo para o esporte?

RELATO DE UMA AULA DE FUTSAL

      Atualmente trabalho no educandário Imaculada Conceição (EIC) tradicional escola de Florianópolis onde ministro juntamente com outro professor aulas de futsal como disciplina extracurricular nas terças e quintas de noite e nos sábados no turno matutino.
No ultimo sábado do mês de setembro estava programada a participação da escola nos jogos das escolas católicas, realizado no colégio catarinense. Neste dia eu ficaria responsável pela equipe que disputaria o futebol de campo. Infelizmente ou felizmente neste dia choveu e a competição foi realizada com esportes que seriam disputados dentro dos ginásios. Por esse motivo fui designado a me dirigir ao EIC para ministrar a aula de futsal para as crianças do nível II (6 a 8 anos).
As aulas no sábado iniciam-se a partir das 08:30 da manha, cheguei mais cedo para arrumar o material no qual achava que iria utilizar. O primeiro aluno chega e já pede uma bola para ir brincando, aos poucos os demais alunos foram chegando. Sem ter preparado uma aula especifica para este dia e prestes a dar o horário de inicio da aula, comecei a reparar a organização e a autonomia dos alunos em relação ao jogo em que estavam jogando, assim comecei a identificar quais as regras eles estavam utilizando. Junto com eles estava jogando um menino do nível III, aluno em que seu horário de  aula era após o do nível II, possuía mais força física e qualidade no jogar. As regras do jogo era as seguintes: a bola não saia pelas laterais nem pela linha de fundo da quadra e eram todos os alunos do nível II contra o único do nível III e mais um goleiro.
A partir desta visualização lembrei-me do texto que li para apresentar na disciplina de metodologia – ensino – educação física no curso de licenciatura em educação física. O texto com abordagem critico-emancipatória relatava a experiência de um professor de educação física em duas escolas publicas de Florianópolis de um jogo denominado “futebol de seis Quadrados”, jogo em que os alunos ajudaram a construir e que objetivava o ensino aprendizagem da modalidade de futebol aos alunos de forma que todos pudessem aprender a jogar futebol a partir de uma adaptação do jogo convencional. Diante de essa lembrança rápida decidir como objetivo realizar e construir jogos com os alunos que auxiliassem o ensino da modalidade futsal e a participação igualitária de todos, já que quando o jogo convencional é utilizado uns sempre participam mais que os outros.
Para iniciar a aula eu nem comecei, simplesmente deixei os alunos continuarem jogando o jogo em que estavam jogando como atividade de aquecimento, pois não fazia sentido parar o que eles estavam fazendo para propor uma atividade lúdica para fazer o que eles construíram sozinhos suprindo assim o que uma atividade de aquecimento deveria suprir. Minha intervenção começou por volta das 08:50, isso porque muitos pais começaram a olhar para o relógio e certamente indagando-se de que horas a aula teria inicio sem saber que a aula já havia começado.
Em seguida chamo os 12 alunos que apareceram neste sábado meio chuvoso para a aula começasse (no ponto de vista deles), com a intervenção do professor. Propus a primeira atividade, um jogo no qual foi dividido duas equipes com seis alunos em cada, utilizamos dois cones, uma corda de 5 metros e uma bola como materiais. As regras eram a seguintes: cada equipe possuía 3 defensores e 3 atacantes e cada trio se posicionava em um lado da quadra, os alunos foram instruído de que não podia um ir para o lado do outro. A corda ficou posicionada no meio da quadra suspensa pelos dois cones e o objetivo era os defensores passar a bola para os atacantes por baixo da corda, quando a bola passasse por cima da corda ou pelo lado de fora dos cones era dada falta para a equipe adversária. Esse jogo não possuía goleiro, portanto definimos a regra de que o gol só era contabilizado se fosse feito dentro da área, assim possibilitando a troca de passes e evitando os tradicionais chutões, que é normal para crianças desta idade em processo de aprendizagem. Além de esse jogo incentivar a troca de passes ele possibilitou o respeito pela organização de suas posições, já que no jogo jogado tradicionalmente, nesta idade a tendência dos alunos é todos irem à cima da bola ao mesmo tempo. O jogo foi jogado durante dois tempos de oito minutos quando em cada tempo os alunos revessaram as suas posições, um tempo ataque outro defesa. Após liberei os alunos para tomarem água. Quando voltaram fomos conversar sobre qual seria o próximo jogo e veio a surpresa! Pediram para jogar mais um pouco o jogo no qual havíamos acabado de jogar.  Jogamos mais dois tempos de 5 minutos.



Dando progressão a aula, partimos pra segunda atividade, sugerir que eles pensassem um jogo que eles jogam em casa, na rua, com qualquer pessoa pra que pudéssemos adaptar para nossa aula. Ligeiramente a grande maioria sugeriu o golzinho fechado, uns porque jogam em casa com os pais e os irmãos outros porque jogam nos condomínios e outros ambientes com seus colegas. Partimos para compor as principais regras que foram de que o gol só era valido quando feito por trás, essa sugerida por mim e outra de que a linha de fundo fosse linha de lateral, além da zona de proteção do gol que era dois passos de dentro para fora do gol que impossibilitava a permanência dentro do gol, quando o gol era interceptado dentro da zona de proteção era marcado pênalti.  Cada gol fechado tinha a largura de um metro e foi feito por dois cones cada lado posicionados em cima da linha de fundo da quadra de vôlei, assim o campo de jogo utilizado foi dentro da quadra inteira. No meu ponto de vista esse jogo mostrou que os alunos já possuem uma inteligência tática organizando-se em setores fundamentais para defender e atacar. As equipes formadas por seis alunos se organizou dentro de quadra da seguinte forma: um ficava para defender a parte de trás do gol (zona de proteção), um na parte da frente do gol para evitar que a bola passasse para a parte de traz do gol, três eram responsáveis em pegar a bola da defesa e levar a bola ao atacante e o atacante ficava já posicionado atrás do gol adversário.eram responsáveis em pegar a bola da defesa e levar a bola ao atacante e o atacante ficava já posicionado atrás do gol adversário.


Para finalizar a aula deste dia como havia ainda cerca de 15 minutos sugeri  outro jogo que buscaria mais similaridade ao futsal convencional, porém neste dia estávamos com problemas de goleiros, por isso os jogos anteriores foram realizados sem a presença deles. Quando perguntei quem se disponibilizava a serem os goleiros ninguém se manifestou com exceção de um que me questionou, “porque todos não podemos ser goleiro ao mesmo tempo?”, a idéia genial colou e o último jogo foi realizado da seguinte forma: dois times de seis jogadores para cada lado onde os jogadores não poderiam fazer gol de dentro da área e quando alguém chutava para o gol qualquer jogador de um mesmo time poderia defender com a mão dentro da área. O mais interessante foi ver a percepção de perigo de gol que a equipe que não tinha a posse de bola possuía, os alunos automaticamente se posicionavam em frente ao gol para evitar o chute e quem estivesse mais próximo da área se posicionava como goleiro. Uma atividade que contribui para organização coletiva dos alunos e que incentiva e oportuniza uma vivencia da participação de todos como goleiro de uma forma prazerosa.
Uma aula mesmo sendo em escolinha de uma determinada modalidade esportiva no meu ver torna-se muito mais interessante ao aluno quando ele participa do processo de construção, muitos alunos participam de escolinhas pelo fato de ser um ambiente que ele pode se socializar e fazer novos amigos e não necessariamente pela modalidade praticada propriamente dita. As possibilidades de um jogo onde a coletividade seja o foco no processo de ensino aprendizagem faz com que cada criança seja importante para o jogo, de modo que ela brinque com o jogar e realize os objetivos do jogo brincando sem determinadas exigências que às vezes a reprime e obstrui a aprendizagem e o prazer da prática. Na descrição das atividades realizadas nesta aula nenhuma vez eu mencionei sobre os resultados de cada jogo, pois o resultado tornou-se apenas uma herança do jogo convencional que mesmo os alunos preocupados com ele, o resultado se tornou menos importante do que o necessário. A dinâmica a troca de passes e a organização dos alunos foram os fatores que mais ficou evidente durante os jogos. Para provar o que digo terei que por os resultados dos três jogos: jogo um 2x1, jogo dois 1x0 e jogo três 1x0. Se compararmos que quando esses mesmos alunos jogam um jogo de futsal com as regras que nele estipula os resultados são elásticos conclui-se que o gol se torna o mais importante no jogo e passa ser o único objetivo do jogo, a organização das posições, o domínio, o passe e outros fundamentos passam a ser esquecidos acontecendo os eventuais chutes para qualquer lado, em qualquer distância, o aglomero em cima da bola, etc. os objetivos de fundamentos acontecem somente quando os professores ficam solicitando o que cada deve fazer e como fazer, onde de certo modo intimida o prazer e a criatividade ao brincar com a bola, reproduzindo movimentos específicos. A abordagem critico-emancipatória (compreendendo que essa abordagem apresenta uma complexidade maior do que foi dito até aqui) utilizada neste ambiente de aprendizagem apresentou-me evidencias visuais e perceptivas do prazer em participar, interagir e respeitar as normas estipuladas, mostrando-se como um método interessante para trabalhar o ensino de modalidades esportivas. 

Ronaldo Matias;
Graduando licenciatura em educação física na UFSC
e integrante do GECUPON-Futebol.