O GECUPOM FUTEBOL parabeniza o Lucas Klein por mais essa conquista acadêmica e profissional. Agora mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina Lucas apresentou sua dissertação hoje pela manha na UFSC abordando o tema " Profissionalização e escolarização de jovens atletas de futsal em Santa Catarina". Sucesso na Caminhada é o que deseja o GECUPOM!!!
E a Copa ainda rende...
Além do futebol: Copa, cidade e sociedade
Juca Kfouri
POR EDUARDO BRASILEIRO DE CARVALHO*
Puxando o fio da história, teceremos a resistência à Copa do Mundo, especificamente da Zona Leste, uma região com a maior população de São Paulo.
Farei um resgate de alguns marcos que são importantes.
A Zona Leste é um território fecundo de lutas e resistências históricas, traduzidas em múltiplas e diversas experiências de alternativas de produção, de resistência em busca de políticas públicas, de articulação e organização popular, de autonomia, de afirmação das identidades e da diversidade cultural dos vários povos vindos de todo o Brasil.
Na década de 80 foi o local de onde surgem as lutas pró-SUS e os conselhos de saúde e, também, os grandes movimentos de moradia puxados por pessoas como Padre Ticão. Espaço de lutas e também de esquecimento de investimentos até a chegada do novo milênio.
O ex-presidente Lula, em 30 de outubro de 2007, em discurso na cerimônia de anúncio do Brasil como sede da Copa afirmou: “Estamos aqui assumindo uma responsabilidade enquanto nação, enquanto Estado brasileiro para provar ao mundo que nós temos uma economia crescente, estável, que nós somos um dos países que estão com a sua estabilidade conquistada. Somos um país que tem muitos problemas, sim, mas somos um país com homens determinados a resolver esses problemas”.
O Brasil, como a África e futuramente Rússia e Catar representam recentes “democracias” com fragilidades ainda em suas constituições, espaços em que uma organização como a FIFA pode conseguir brechas para lucrar muito mais.
Não é à toa que as suas opções têm sido países periféricos, em desenvolvimento galopante.
Não creia nunca que é descentralização, ao contrário.
A aposta foi feita. No Brasil inteiro, multidões comemoraram. Conseguimos!
Em minha alma gritava a frase do grande jogador de futebol, e por sorte, corintiano, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Oliveira: “Basta o amor pelo esporte para hipnotizar desavisados”.
Afinal, a FIFA se vale do fato de controlar o maior produto cultural do mundo, o futebol.
A lista de exigências legais que ao Brasil foi feita é interminável. Trouxe para cá a formalização de um modelo de crescimento: Megaeventos.
Lógica de capitais transversais e de nenhum investimento substancial. A FIFA conseguiu, na poesia de Chico Buarque, “subtrair nossa nação em tenebrosas transações”.
Não podemos ser injustos com a FIFA, mesmo sendo ela a dona de um cinismo delirante ao afirmar que nos deixaria um grande legado urbano.
Recentemente, vendo o SPTV, vi o que a população consumiu como legado. Um rapaz entrevistado disse que a ponte que liga o metrô Itaquera ao estádio, e o túnel que transpassa por baixo todo este polo evitando trânsito, é o grande legado.
Desde a definição de que Itaquera receberia uma arena houve uma grande empolgação nas associações de comerciantes e moradores.
A lógica se centrou em dois pontos: crescimento de trabalho e organização da habitação local. Surgiu até um seminário no auditório da Santa Marcelina, com o ministro do Esporte, o Secretário do Trabalho e o presidente do Corinthians, André Sanchez, hoje, por mera coincidência, candidato a deputado federal pelo PT.
O auditório transbordava. Na época, Padre Paulo Bezerra, pároco de Itaquera, cedeu sua cadeira ao líder do movimento de camelôs, e este narrou ao subpreprefeito e autoridades que todos haviam sido retirados de Itaquera pela força truculenta da polícia e que não tinham lugar para trabalhar.
Apesar de denúncias, muitos preferiram crer nos entusiastas.
Sete anos após o anúncio inflamado de Lula, em Zurique, este modelo e escolha mostravam esgotamento: centenas de milhares de pessoas começaram a mostrar insatisfação com a atual situação do país no explodir das “Jornadas de Junho ” e, posteriormente, na fundação, em 10 de dezembro de 2013, do “Dia Internacional dos Direitos Humanos”, do coletivo “Se não tiver direitos, não vai ter Copa”.
Eu estava lá, empolgado, motivado, com meu irmão e companheiros que juntos tomaram a frente de muitas lutas pelo questionamento “Copa pra quem?”.
Trocando em vocabulário acadêmico. O Brasil viveu o embate entre duas tendências neste país continental. Em termos sociológicos, a luta se daria entre uma corrente tecnocrática e outra humanista. Em termos políticos, o embate se daria na oposição entre eficácia e utopia. Em termos econômicos, a luta seria travada entre o processo da racionalidade mercantil e benesses comunitárias.
Problematizando de lá para cá, acompanhamos o processo de luta pela não reintegração de posse e remoção da comunidade Vila da Paz, ao lado do metrô Itaquera.
Essa organização deu surgimento ao PLANO POPULAR ALTERNATIVO PARA A COMUNIDADE DA PAZ. Produzido por militantes da região denunciando a falta de direitos humanos que assola a vida da comunidade e o projeto de moradia.
Vimos efervescer a luta pela UNIFESP Zona Leste. Movimentos sociais se aglutinavam na luta para trazer essa universidade. (Um parêntese: o terreno já foi comprado e nada da faculdade, sete anos depois). A arena em dois anos foi totalmente erguida.
E por falar na arena, a sua construção passou por cima de licenças ambientais rapidamente liberadas, e nos fazendo questionar a sua construção numa área como a nossa, qual seria a influência nas questões de minerações que possuímos. Água, energia, e outros minérios. Um invasivo ataque à questão socioambiental.
O relatório da Fundação Heinrich Boll Stiftung, no documento “COPA PARA QUEM E PARA QUÊ’?”, revela que na Copa do Mundo da Alemanha mostrou um poderio militar que não se via desde a época do nazismo.
Nós, de muitas cidades do Brasil, e cidades para ricos ou para pobres são diferentes, padecemos com o legado militar nas periferias trazida pela ditadura.
Oficialmente a tortura não acabou em 1989 com a redemocratização, pois seus alvos são muito bem definidos. Tem cor, idade e endereço.
São quase sempre jovens e negros. E são sempre pobres e moradores de periferias. A Polícia Militar, que transversalmente cria leis paralelas, fortalece cidades de exceção. Frei Tito, dominicano, torturado pela ditadura militar, em 1974, antes de se suicidar afirmou que “o Brasil não é só o país do Pelé e futebol, é também o país da tortura”.
Uma imagem me chocou muito: indo trabalhar, num dos dias que antecederam a abertura da Copa, passavam tanques, caminhões e dezenas de jovens, soldados armados, emparelhados com os carros no trânsito.
Porque a Lei Geral da Copa foi uma das cartas brancas dadas pelo Estado brasileiro para a criminalização dos movimentos sociais.
Vivemos hoje num cenário alarmante de presos em manifestações, com fraudes forjadas contra eles.
Recentemente, a cinco meses da Copa, foi daqui que eclodiu o primeiro ‘rolezinho’ oficial, em plena época de Natal, fenômeno que tomou o país num debate sobre consumo e segregação racial/social.
É assustador pensar que num estádio como o de Salvador, a Fonte Nova, conseguiu-se embranquecer a maior cidade brasileira de habitantes negros.
As ruas onde os jovens se reúnem para cantar, dançar e jogar conversa fora, hoje são espaços hostis pela presença do tráfico e da polícia. Os jovens pensaram: “Usemos os shoppings, então”.
Apesar das manifestações que se seguiram não conseguirem atingir números elevados na Zona Leste, dois atos na região mobilizaram muitas pessoas de toda a cidade, puxados pelo coletivo “Se não tiver direitos não vai ter Copa”.
Em diversas manifestações era pedido um “padrão Fifa”, reivindicação infeliz, pois a lógica da Fifa é a lógica da privatização, da segregação racial e social e do higienismo hostil. Digo hostil porque o povo de rua foi o primeiro eliminado da Copa, com um higienismo gentil pouco divulgado, segundo o Padre Júlio Lancelotti.
Com a construção da Arena Corinthians o que se vê na região é uma supervalorização de aluguéis e casas. Para pessoas que compraram a preço de cascalho na década de 80 foi uma alegria, mas, para os moradores que ainda eram locadores de casas, ocasionou infeliz mudança da região para locais ainda mais extremos.
Víamos com a saída de comunidades e o aumento dos aluguéis, uma limpeza na região para que só ficassem os que sobreviveram a lógica do capital de ganhar mais.
O déficit habitacional em São Paulo, conforme dado de 2012, era de 700.259 pessoas, uma calamidade pública velada.
Lembro-me, em janeiro deste ano, reunido em Itaquera com a juventude, da chegada de um rapaz do MTST querendo falar sobre espaços da região que poderíamos indicar para uma ocupação. Uma liderança nossa, do Fórum de Saúde, apresentou o terreno em frente ao SESC Itaquera.
Três meses depois surgiria a OCUPAÇÃO COPA DO POVO, uma das vitórias mais rápidas em relação a habitação popular da região, que possui ocupações que estão há mais de 20 anos buscando parceria para construção popular com o governo.
A ocupação garantiu três mil moradias! Do alto dela é possível ver a Arena Corinthians, três quilômetros adiante.
Todo o processo da ocupação “Copa do povo” é uma vitória que revela o poder popular em contraposição à lógica dos governantes.
Para controlar os ânimos, o município lançou um instrumento de participação, como o Conselho Participativo Municipal, iniciativa altamente propagandeada no ano anterior, mas, após oito meses depois, morta na praia. Assistimos à ineficácia e imobilismo de conselhos que não intervém diretamente nas decisões dos bairros.
Para não dizer que não falei de futebol, não existe legado esportivo.
Há anos movimentos puxados pela Zona Leste reivindicam um centro esportivo em cada distrito da região, com pactos assinados nas eleições, mas nada foi feito.
Quem os fez com excelência foi a Alemanha há mais de 10 anos. A Alemanha massificou todas as modalidades esportivas. O Brasil precisa massificar todas as modalidades esportivas.
Nosso legado é a violência de não ter espaços esportivos, culturais e de lazer suficientes para a quantidade de nossa população.
Em relação aos centros saúde e educação, os melhores ainda são as instituições privadas — e o medo é disseminado pelas nossas instituições, tornando a rua um local rápido para se passar e não parar.
Para ser justo, essas reflexões não são obrigação de um evento de futebol.
Quando me perguntam se a Copa do Mundo não surtiu efeito, ao menos, em mobilizações que trouxeram mudanças, eu afirmo categoricamente: “Preferiríamos que não”.
Perdemos muitas pessoas inocentemente em obras e temos hoje um estado de criminalização das lutas muito grande.
O resultado social das manifestações era previsível. As manifestações são um símbolo de maioridade democrática. Aliás, os movimentos das ruas não possuem respostas claras. Eles são apenas um sinal, é como limpar a mesa e afirmar categoricamente “é hora de começar a pensar”.
Todos os questionamentos vieram no bojo de uma realidade crua e difícil de aceitar, pois vivemos numa democracia de baixa intensidade.
Os investimentos na região de itaquera nos pareciam uma espécie de capital para um crescimento acelerado que não é o nosso.
Somos tratados e considerados como o custeio do bairro. Não somos tratados como o esteio. Se existe um bairro é porque existem pessoas e elas devem ser consultadas para livremente decidirem.
A Zona Leste precisa romper o olhar da tradição que diz que nós crescemos. A tradição de opressão é lógica férrea de exclusão e marginalização de muitos.
Por outro lado, vale dizer que a Copa das arenas passa e, em nosso caso, passou bem longe do 7X1.
Mas a Copa do povo, ampla e hegemônica, é a permanente busca pela sua taça, numa região de democracia racionada, como a água.
Além do gingado no futebol, temos uma teimosa esperança de o povo apoderar-se tanto dos campos dos direitos sociais quanto o da busca pela justiça social.
O legado da Copa real é que a luta muda a vida.
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A nova jogada da CBF
Você há de se lembrar de que quando o então empresário de jogadores Gilmar Rinaldi foi apresentado como diretor de seleções da CBF anunciou-se, também, que nas próximas convocações do time principal haveria a mistura com jovens que poderiam disputar a Olimpíadas.
A ideia foi, no entanto, repentinamente esquecida quando se anunciou um calendário paralelo com jogos da Seleção principal e de novos.
O motivo é óbvio.
Em vez de convocar 22 jogadores, convocam-se 44 e dobra-se o número de ” jogadores de seleção brasileira”.
Ou seja, multiplica-se a vitrine para exploração dos empresários.
De quebra, a seleção de novos sai jogando pelo país afora para agradar governadores, deputados e senadores num momento em que a CBF está fragilizada no Congresso Nacional.
Rinaldi, frequentador assíduo da Federação Paulista de Futebol antes de ser escolhido, tinha, então, como maior interlocutor, o vice-presidente da FPF, seu futuro presidente e terceiro homem forte da CBF, Reinaldo Carneiro Bastos, atuante protagonista no mercado de jogadores.
8 a 1 para a Alemanha!
Por Juca kfouri;
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